"Santa Marta Digital" (SD) -Considera que o gosto pela Pintura é um dom ou aprende-se com o tempo? Pergunto isto, porque noto esse gosto nos seus filhos e no seu neto Hugo, que também é artista plástico.
Ribeiro Soares (RS) - Como em tudo na vida sem gosto nada se pode fazer, não só na arte de pintar. Entendo que o gosto pela arte tem que existir dentro de nós desde meninos. Julgo que já nascemos pintores.
A seguir apenas vamos conhecendo as técnicas, e conhecer materiais, bem como o ambiente que nos rodeia no que se refere à luz natural, se estamos em local quente ou frio, se estamos a Norte ou a sul, em cada lugar destes, as cores têm os seus domínios normais, mediante o sítio. Portanto só um pouco de jeito não chega, faz falta o verdadeiro interesse bastante paciência e o tal amor.
SD - O Hugo ter-me-á dito, que muito daquilo que aprendeu deve ao avô Zé, como ele lhe chama, não só como Artista mas principalmente como pessoa. Tem noção desta influência.
RS -Estou muito feliz pelo meu neto Hugo, é ainda muito novo mas tem tudo para ser um verdadeiro e famoso artista, e o génio que já tem vai ser consagrado sem dever nada ao Avô Zé. Para ele o meu incansável carinho.
SD -Exerceu os seus dotes de pintor na fábrica da loiça Campos e Filhos, na Meadela, que é uma das melhores do País na arte de fazer e pintar loiça à mão. Sente saudades da fábrica? Sentia gosto nas suas obras de arte, e de muitos colegas seus, sabendo que eram apreciadas por muitas pessoas, dentro e fora do País?
RS -Sim é verdade que exerci a actividade de pintor e decorador na fábrica da loiça Campos e Filhos da Meadela Viana do Castelo e nessa fábrica permaneci 14 anos da minha vida.
Mas um homem não aceita a tirania e a seguir a burocracia, como posso ter saudades daquela casa? Dessa casa só sinto mágoa e pena pelos meus originais que lamentavelmente lá deixei. Tanto dei de mim, e não permitiram que eu rasgasse mais e melhor, todos os meus horizontes criativos, para o bem da fábrica e para a minha própria felicidade, saindo da fábrica por vontade própria.
SD - Na fachada da sua vivenda podemos ver azulejos pintados por si. Tem alguma história que possa contar em relação a essa obra?
RS - Sim é verdade, tenho na minha vivenda um pequeno painel de azulejos que apenas está escrito, e cujo significado é “O CARINHO À MULHER E AO POETA”.
Fico grato por me reconhecer “rico” mas somente de alma, deve ser esta a real verdade.
Já criei e pintei várias centenas de quadros a óleo, desenhos a carvão, decorações várias e muitos painéis em azulejo com cenas diversas, muitas peças cerâmicas com decorações únicas, modelei obras em barro e grés.
Muitos destes trabalhos estão espalhados por Portugal, Espanha, França, Bélgica, Alemanha, Suíça e Brasil. Também cá tenho muitos em Lisboa, Aveiro, Porto, Viana do Castelo e muitos outros em Santa Marta de Portuzelo.
SD - Com o seu passado rico na arte de pintar, não tem planos para escrever um livro ou a sua autobiografia? Entendo que Santa Marta ficaria mais rica, em ter recebido um artista que deixa para os vindouros uma história para contar.
RS - Irei em breve apresentar um livro que escrevi sobre “ANTOLOGIA”.
Deixo-vos um pensamento final: Nós apenas somos o que a vida fez por nós.
SD - Chegou ao fim a nossa conversa. Gostaria de agradecer ao amigo o facto de dispor do seu tempo para que, de uma maneira agradável e bem explícita, nos dar a conhecer a “Arte” de pintar. Fiquei com a certeza de que o amigo ainda tem muito para contar.
Porque entendemos que a Arte como a Música como o Teatro, nos dão alegria e estão ligados entre si, mostrando-nos tudo de bom e o valor do Artista.
O trabalho fruto do talento deste artista, contribuiu para a dignificação desta freguesia. Por este motivo, o "Santa Marta Digital" tem o prazer de contribuir para a divulgação de alguns dos seus trabalhos, com a publicação neste espaço de algumas fotografias da sua obra.
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