domingo, 23 de outubro de 2011

Santamartenses Ilustres (contributo de Álvaro Sales)

É com enorme prazer que o Santa Marta Digital vem partilhar com todos os Santamartenses uma recolha de informação, levada a cabo pelo nosso conterrâneo, Álvaro Sales Gomes, mas ainda pouco divulgada.

Aproveitamos ainda para agradecer a Álvaro Sales, a amabilidade com que nos autorizou a publicação desta informação, disponivel no seu site e que pode ser visitada clicando aqui.

Deixamos ainda neste artigo uma homenagem ao saudoso Álvaro Sales, criador da Vela Votiva de Santa Marta, acedendo a um pedido do também saudoso Dr. Sousa Gomes.


Afim de dar a conhecer e lembrar quem por nós muito fez
valorizando a nossa Terra e enriquecendo a nossa vida.

Ventura José Costa natural de Santa Maria de Carvoeiro emigrante no Brasil comprou a quinta da Vinha melhorou todo o espaço e chamou-lhe quinta da Vista Alegre.
Dinamizador da reconstrução da Igreja Paroquial e passados dois anos ajudou a construir a torre e nela colocou um pequeno tesouro em moedas de ouro, prata e cobre
 Ofereceu o relógio para a torre.
Foi juiz da festa da Senhora do Livramento.
Faleceu no dia 24 de Dezembro de 1898.
Grande benfeitor de Santa Marta


Ana Florentina Maciel Costa natural de Santa Maria de Carvoeiro, casada com Ventura José Costa foi uma das benfeitoras da paróquia  e após a morte do seu marido foi juíza da festa da Senhora do Livramento.
Faleceu a 4 de Abril de 1927



Manuel Parente da Costa Lima natural de Santa Marta de Portuzelo, foi o desenhador, fiscal e grande benemérito da igreja de Santa Marta.










José Parente da Costa Lima natural de Santa Marta de Portuzelo,  grande benemérito da paroquia   santamartense.











Comendador J. M. B. Camacho senhor da quinta das Lágrimas e principal impulsor das obras da igreja.










Comendador António Parente Ribeiro e   sua esposa D. Elvira Parente Ribeiro, benfeitores da freguesia e construtor da Avenida com o mesmo nome







José de Brito, nasceu em Santa Marta em 18 de Fevereiro de 1855 e faleceu em 1948.
 Em 1873, vai estudar na Academia Portuense de Belas Artes onde tem por professores Tadeu de Almeida Furtado,
João Correia e Soares dos Reis.
Em 1885, obtém uma bolsa régia, concedida por D. Fernando II por influência do ilustre homem de letras Ramalho Ortigão e do Barão Kessler secretário de D. Fernando, que lhe permite partir para Paris, para estudar na Academia
Julien, com Boulenger,Lefébre, Laurens e Benjamim Constant.
Expôs durante nove anos e vendeu várias obras e foi muito bem recebido pela critica.
Em 1896 regressa a Portugal onde inicia a sua actividade de docente na academia Portuguesa de Belas Artes
Entre as suas obras estão; " O Baptismo de Cristo" para a Igreja da Trindade," Retrato de Júlio António de Amorim"
para o Hospital de São Marcos em Braga, pintura do tecto do Teatro Nacional S. João," A Vaga" " Mártir do Fanatismo" no Museu Nacional de Arte Contemporânea entre outras. 

João Gonçalves da Silva Sordo de Barros, nasceu em 18 de Dezembro de 1862  em Santa Marta e notabilizou-se na freguesia pelos serviços prestados como presidente da junta e empresário.
Como presidente da junta electrificou a freguesia, (1918) ofereceu o terreno para a construção da escola do 1.º Ciclo da Fonte Grossa assim como o terreno para a construção da avenida e colaborou em todas as iniciativas da terra.
Como empresário criou a empresa de camionagem, a serração e a moagem onde empregava grande parte dos santamartenses.
Faleceu em 26 de Setembro de 1943.

Padre José Joaquim Soares Borlido, nasceu em Santa Marta e foi pároco da paróquia de Outubro de 1905 a Dezembro de 1929 onde ficou conhecido por Reitor da Breia.
Fidalgo e cavaleiro da Casa Real.






Padre António Joaquim Gonçalves da Torres, natural de Santa Marta fundou a corporativa agrícola de Santa Marta e o clube de futebol  Os Pernicas.
Foi pároco de Santa Marta entre Junho de 1937 e Setembro do mesmo ano.







Padre Agostinho José Luís de Brito, nasceu na freguesia de Bela do concelho de Monção, no dia 31 de Março de 1904 foi ordenado Sacerdote por Dom Manuel Vieira de Matos no dia 29 de Junho de 1929 na igreja de Santa Maria Maior de Viana do Castelo.
Foi pároco de Moreira - Braga em 1929, em Pias - Monção em 1932, Santa Cristina de Padreiro e Távora- Arcos de Valdevez em 1933 de Rubiães, Águalonga - Paredes de Coura e Infesta. Em 1937 foi nomeado pároco de Santa Marta onde esteve até 1976 aquando da sua resignação por motivos de idade e saúde.
Foi presidente da junta e durante o seu mandato comprou a casa nas Petigueiras para residência paroquial com a ajuda de um grupo de santamartenses generosos.
Foi assistente e dinamizador da telescola instalada na casa do Adro com vários alunos.
Acompanhou o grupo Folclórico a Helsínquia nos Jogos Olímpicos de 1955.
Fundador do jornal   Betãnia do Lima     (jornal da paróquia)
Faleceu no dia 1 de Outubro de 1989 na freguesia de Bela - Monção.
Emudeceu a sua voz, ficou o seu exemplo.

Dr. António Eduardo Sousa Gomes era portuense de naturalidade, mas revelou-se, desde os 22 anos, um Vianense de adopção e eleição, tantos e tão notáveis foram os serviços prestados ao concelho, especialmente a Santa Marta de Portuzelo e à cidade, como principal paladino e promotor dos valores etno-folclóricos destas comunidades.
Bem sabemos que foi um competente e dedicado médico e que, enquanto tal, criou em cada Santamartense um amigo, admirador e confidente, mas foi sobretudo como folclorista que ele fez jus ao mais justificado preito de homenagem e a uma merecida e sentida evocação.
Todos sabemos que o folclore Vianense não foi descoberto por ele, mas sabemos, também, que ele o fez extravasar com grande impacto as fronteiras do concelho e do País e lhe deu tão grande visibilidade e sedução que, a partir das suas iniciativas e por virtude delas, Viana do Castelo passou definitivamente a chamar-se e a ser realmente a Capital do Folclore Português.
Teve antecessores notáveis, quer em grupos folclóricos, quer em investigadores, quer em autores de recolha das tradições etnográficas do concelho, já homenageados e consagrados publicamente. Mas foi ele que fez explodir essas potencialidades, as tornou visíveis no País e no estrangeiro, suscitando em Portugal uma onda de entusiasmo pelos valores etnográficos que originou a criação de numerosos agrupamentos e fez do movimento etnográfico e folclórico o mais expressivo cartaz da cultura popular portuguesa.
Chegando a Santa Marta, ainda jovem médico com 22 anos arguto observador de usos e costumes, imediatamente se entusiasmou e apaixonou pelo variado, opulento e característico património etnográfico da boa gente de Santa Marta de Portuzelo.
Entusiasmou-se com os trajes, vivos, fantasiosos, ricos em qualidade de materiais e em arte; apaixonou-se pelos ouros tradicionais, variados em formas e com simbolismos portadores de esclarecimentos e mensagens relativas à concepção de vida e ao estatuto social de quem os usava; registou com admiração toda a variada e sugestiva panóplia de utensilagem usada pelos Santamartenses na labuta de cada dia e, especialmente, nas lides domésticas e da agricultura.
Após essa observação, imaginou uma forma de recolher, perpetuar e exibir esses valores da identidade Santamartense e de fazer deles um factor de promoção de Santa Marta de Portuzelo e do concelho e motor do seu desenvolvimento cultural e económico.
Assim, o impacto destas descobertas foi tão grande, que imediatamente concluiu ser a criação de um grupo folclórico um dos meios mais eficazes de atingir aqueles objectivos.
Desta conclusão nasceu, em 28 de Maio de 1940, o Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo.
A adesão ao grupo foi entusiástica, o critério e o rigor posto pelo Dr. Sousa Gomes na escolha dos elementos, na fidelidade aos trajes, no valor das melodias tradicionais, na exactidão das danças, garantiram ao grupo um sucesso imediato.
Alguns dos seus cantares ganharam imensa popularidade e, através da rádio que os passava continuamente, e das instalações sonoras das festas e romarias, levaram a fama do grupo a todo o Portugal.
Os pedidos de apresentação nas mais diversas solenidades e lugares sucediam-se e o renome do agrupamento mereceu-lhe ser escolhido para acompanhar a representação Portuguesa aos Jogos Olímpicos de Helsínquia, em 1952, onde, pela sua exibição, entre 35 grupos participantes, foi um dos que mereceu ver a bandeira Nacional subir no mastro de honra.
Seria fastidioso e quase impossível fazer a enumeração de todos os lugares e nações onde o grupo se exibiu, durante a direcção do Dr. Sousa Gomes, por serem muitos e por não haver um registo completo de todas as deslocações realizadas.
Pode, no entanto, dizer-se que o Dr. Sousa Gomes levou o seu agrupamento a quase todos os países europeus, e alguns deles repetidas vezes, sendo dignas de realce, além da já citada representação nos Jogos Olímpicos de Helsínquia, uma prolongada visita ao Brasil (1959), que o tornou o primeiro grupo do género a actuar no país irmão e uma apresentação perante a Rainha de Inglaterra, em 1957.
A sua actividade como folclorista alcançou visibilidade internacional tendo recebido uma condecoração (grau de cavaleiro) do Ministério da Educação de França por serviços prestados à cultura daquele país.
O nosso lustre cidadão foi também um dos grandes impulsionadores da Romaria de Santa Marta de Portuzelo que ganhou dimensão internacional com a inclusão dos festivais internacionais de folclore, ( 1º festival em 1956) famosos pela novidade e valor dos grupos participantes portugueses e estrangeiros.
Por este motivo, e enquanto os festivais do género não se banalizaram por todo o País, a Romaria de Santa Marta ganhou relevo nacional, atraindo à nossa airosa freguesia numerosos forasteiros e conseguindo grande impacto mediático nos meios de comunicação social.
Também as festas de Nossa Senhora d’Agonia tiveram sempre a incondicional colaboração, mormente o cortejo etnográfico, onde os carros representativos da freguesia, foram sempre dos mais atractivos do certame.
No âmbito das Festas d’Agonia, era na Festa do Traje que o Dr. Sousa Gomes punha o maior empenho para que o seu grupo mostrasse todas as potencialidades, mormente na apresentação dos ricos e variados trajes de Santa Marta de Portuzelo. A passagem da juventude Santamartense pelo palco era um dos momentos altos da Festa do Traje.
O Grande folclorista também nunca negou a colaboração do seu grupo às entidades oficiais e outras forças vivas da cidade, aquando da realização de actos festivos, comemorativos, inaugurais ou a recepção de visitantes ilustres, cerimónias às quais o folclore de Santa Marta conferia brilho especial, encantando os espectadores.
A partir destas apresentações e em virtude do impulso dado pelos êxitos à promoção, estudo e rigorosa purificação do traje Vianês, este passou a ser um dos principais ex-libris de Viana do Castelo, tornando-se um dos maiores orgulhos dos Vianenses que faziam e ainda fazem gala de o apresentar às visitas ilustres como o património mais característicos e identificador do nosso concelho.
O Dr. António Eduardo Sousa Gomes nasceu no Porto, na freguesia de Paranhos, em 6 de Dezembro de 1917. Feitos os estudos primários e secundários na cidade natal, cursou Medicina em Coimbra, onde se licenciou.
Em 1939, apenas com 22 anos, já estava em Santa Marta de Portuzelo  para exercer Medicina, tendo conquistado, ao longo dos anos, a amizade, a admiração e o respeito de todos os Santamartense como médico e como cidadão activo e colaborante na promoção do progresso e interesses da freguesia.
Por isso, o seu voluntário afastamento do grupo que fundou e catapultou para a fama, foi muito sentido, e tanto que o agrupamento teve uns tempos de hesitação e letargia, felizmente ultrapassados com a assunção do comando pelo Sr. Abílio Costa.
Mais sentida ainda, foi a sua morte inesperada, ocorrida em 29 de Junho de 1983, e, por isso, o seu funeral – segundo a imprensa da época – "foi dos mais concorridos de que há memória", tendo a presença de todas as autoridades locais e regionais e a apresentação de numerosos grupos folclóricos.
Pelo seu extraordinário dinamismo em favor do folclore de Viana do Castelo de que era um esclarecido especialista, pela inestimável promoção, em Portugal e no mundo, da cultura popular Vianense, pelos inegáveis serviços prestados à freguesia, à cidade e ao concelho, a Câmara Municipal, atribuiu-lhe, a título póstumo, o galardão de "Cidadão de Mérito".

Conceição Canita e Isidro Palmeira naturais de Santa Marta e elementos do Grupo Folclórico onde se notabilizaram como bailadores do VIRA de Santa Marta.
Diz Pedro Homem de Melo no seu livro "Folclore":

"Dir-se-ia que, posto em liberdade, o corpo do bailador de
Santa Marta como se esfarrapa e se descose à mercê do vento"


ABÍLIO DA ASSUNÇÃO OLIVEIRA E COSTA nasceu no lugar de Santa Martinha, Santa Marta de Portuzelo, a 25 de Julho de 1929, tendo recebido as águas lustrais do baptismo na igreja paroquial da respectiva freguesia a 28 de Agosto seguinte pelo Rev. Pároco José Joaquim Soares Borlido. A nível da sua freguesia, exerceu as funções de Secretário da Junta de Freguesia em 1965 e de 1968 a 1971; a de Presidente da Junta, desde 1971 a 1974.
RESPONSABILIDADE NO GRUPO FOLCLÓRICO
1972 – Assume a responsabilidade de Director do Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo. A efeméride ocorre após interregno de dois anos, vazio causado pela despedida do Dr. Sousa Gomes, Fundador e primeiro Director do Grupo. Objectivo fundamental a cumprir: dignificar bem como preservar o nome e o prestígio desta colectividade artística. Segue-se uma outra importantíssima tarefa: Levar muito longe e com todo o respeito o nome de sua terra. Consegue ver alcançados os dois objectivos que então enunciara. No mesmo ano de 1972 é colocado na vice-presidência da Comissão de Festas, notabilizando a Romaria e o Festival Internacional de Folclore que, nesse ano, já ia na 16ª edição. Com Abílio Costa na vice-presidência da Comissão de Festas e a colaboração dedicada dos santamartenses, teve a Romaria desusado brilho, em 1976, quando a nossa melhor intérprete da canção, AMÁLIA RODRIGUES, aqui chegara para cantar e fazer as honras do Festival.

1977 a 1996 – Tesoureiro - Adjunto da Direcção da Federação do Folclore Português.

1972 a 1989 – Colaboração amiga da Direcção da Casa do Povo de Santa Marta de Portuzelo na cedência do Salão para os ensaios, gesto que muito nos apraz registar, saudar com amizade e gratidão.

1980 a 1990 – Candidata-se o Grupo ao P.I.D.A.C. com vista à construção da Sede, candidatura que não merecera das entidades de então o devido apreço. Mas nada perdido. Aproveitando as comemorações do 50º aniversário do Grupo Folclórico, este Homem, que não é de olhar para trás, meteu mãos à obra da construção da Sede. Contou para tanto com as seguintes colaborações: Câmara Municipal de Viana do Castelo, Freguesia de Santa Marta (através de dois peditórios da Freguesia, de Cantares das Janeiras e Peditório de S. Miguel), dos Amigos do Grupo, dos amigos pessoais de Abílio Costa. Quem lhe deu a mão e o apoiou em tão grande empreendimento, de elevados custos.

1990 – Comemoração do 50º aniversário e da inauguração da Sede. De salientar que, nas referidas comemorações e com o empenho da Comissão Organizadora se realiza o 1º Festival Nacional de Folclore do Alto Minho. O álbum conta inúmeras personalidades ligadas ao Folclore e a presença de Grupos mais prestigiados de cada Região do Pais e de um Grupo da Ilha da Madeira. Essa Comissão, na qual se integrava Abílio Costa, merece os melhores elogios pela sua competência, desvelado interesse e carinho posto na realização deste certame inesquecível.

Com Sede própria e pelas mãos do seu Director, o Grupo cria e organiza o seu Museu de Troféus, Traje, Utensílios Agrícolas, alguns deles cedidos por amigos do Grupo.

Em 2002 participa na animação do Campeonato Mundial de Futebol na Coreia.

ANA  de OLIVEIRA BARROS  em 25 de Abril de 1981, uma menina de oito anos, vencia categoricamente uma prova de ciclismo em compita com adversários do sexo masculino.
Aos aplausos da assistência, sucedeu a estupefacção, quando todos tomaram consciência de que o "sprint" triunfante tinha proeza de uma menina, muito menina, que deixara para trás os competidores do chamado sexo forte.
Ainda não havia ciclismo feminino oficializado em Portugal, por isso as jovens que desejavam competir tinham de fazê-lo com os rapazes que, apesar de ainda imberbes, já sabiam "olhar de cima da burra" para as competidoras e dirigir-lhes o piropo do machismo nacional: "Ó miúda, olha que isto é para gente de barba rija!".
Mas foi essa a primeira vez que, na historia do ciclismo nacional, todos os pedaladores de "barba rija" foram superados por uma menina que respondia aos aplausos erguendo timidamente os bracinhos, como que envergonhada por ter pregado tamanha partida ao pretensioso orgulho masculino.
Aquela menina, embora antes não tivesse ainda vencido nenhuma prova, já por outras vezes tinha deixado para trás muitos rapazitos da sua idade, dando claros indícios de que, mais tarde ou mais cedo, os deixaria a todos a vê-la pelas costas. E isso aconteceu nessa corrida 25 de Abril de 1981, quando, com os seus oitos anos, franzino mas determinados, e com a sua primeira e categórica vitória, proclamou que nascera uma estrela de primeira grandeza no horizonte do ciclismo feminino nacional.
Nascia uma estrela, mas a história ensinaria que foi mais um meteorito que, durante 18 anos, riscou o céu com fulgor inusitado e, de repente, quando o brilho era intenso, desapareceu nos meandros e golfões da vida sem deixar rasto nem sucessora à altura no evoluir do ciclismo feminino nacional.
Poderia assim resumir-se a história da ciclista vianense Ana Barros? Não. A História da ciclista santamartense não podia resumir-se assim, porque entre o nascimento da estrela e o voluntário, inesperado e definitivo eclipse, houve um longo rosário de êxitos, de venturas e desventuras, de manifestações de pundonor, estoicismo, valentia, companheirismo, nobreza de carácter e de outros atributos que elevaram muito alto a sua condição de ciclista, de mulher e de vianenses.
Foram essas qualidades humanas, os seus inéditos feitos desportivos, a grande promoção que, da sua e nossa terra, ela fez ,em Portugal e no estrangeiro, especialmente em campeonatos da Europa, do Mundo e em jogos Olímpicos e noutras provas de grande nível internacional, que levaram a Câmara Municipal de Viana do Castelo a distingui-la com o título de "Cidadã de Mérito".
Ana de Oliveira Barros nasceu em Santa Marta de Portuzelo, em 5 de Fevereiro de 1973, filha de Eduardo Churchill de Amorim Barros e Ana Maria de Oliveira Barros.
Sendo o pai um apaixonado pelas bicicletas, muito cedo a Anita aprendeu a equilibrar-se sobras as duas rodas e, aos seis anos, já era praticante destacada como atleta do Grupo Desportivo do Centro Paroquial de Santa Marta de Portuzelo, o seu único clube do princípio ao fim da carreira.
Depois desta vitória, a equipa de Ana cresce com a adesão de Georgete Fernandes e Carla Pereira, começando a surgir convites do estrangeiro para competir em provas do calendário internacional, participação que Ana Barros iniciou brilhantemente vencendo, ainda como júnior, o contra-relógio da Volta ao Alto Aragão, classificando-se em 3ª lugar na geral da mesma categoria.
Em 1992, depois de brilharetes no Grande Prémio Tensai, na clássica 9 Julho em S. Paulo, na Volta Internacional de Palma de Maiorca, Ana Barros foi visitada pelo infortúnio, talvez o mais amargo da sua carreira.
Foi o caso que, tendo sido seleccionada para representar o ciclismo português nos Jogos Olímpicos de Barcelona, quando, já na cidade Condal, fazia um treino de reconhecimento do percurso em que ia competir, foi atropelada, sofrendo ferimentos que a impediram de se tornar efectivamente atleta olímpica, como tanto tinha sonhado e ambicionava. No clímax da juventude (tinha 19 anos) e no auge da forma, aquela era uma prova que justificava as suas melhores esperanças e qual se sacrificara a ponto de ter interrompido, naquele ano, os estudos superiores que prosseguia. Foi um duro golpe que Ana suportou com ânimo de campeã, sustendo pela esperança que a sua juventude lhe permitia alimentar de que surgiriam outras oportunidades de competir entre o escol dos atletas mundiais.
O ano 1993, foi de boas classificações, tanto a nível nacional com internacional. Na Rússia venceu duas etapas de uma prova em Rostov e, em Portugal, competindo no Grande Prémio Tensai com a fina flor do ciclismo feminino europeu, saiu de camisola amarela e terminou numa honrosa 5ª posição.
Em Atlanta, realizou o sonho olímpico que a desventura adiaria em Barcelona, obtendo um honroso 23º lugar com o mesmo tempo da 4ª classificada e apenas 53 segundos da vencedora.
No entanto, a nível nacional, nenhum título de estrada lhe escapava, sagrando-se crónica campeã nacional de estrada seis vezes seguidas entre 1991 e 1996, ano que abandonou a carreira ciclista. Também arrebatou alguns títulos de pista e velocidade.
Ana Barros, apesar da intensa actividade desportiva e de ter estatuto de atleta de alta competição, nunca descurou os estudos, tendo, ao terminar a carreira ciclista, completando o Curso de Gestão, na respectiva Escola Superior do Instituto Politécnico de Viana do Castelo.

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