"Numa das suas viagens à cidade, e de passagem pela Praça da República, o Jorge encontrou de novo o João que, quando o viu, correu para que lhe contasse mais histórias da sua aldeia.
A primeira parte deste artigo, pode ser consultada aqui.
- Bom dia João.
- Bom dia Jorge, ainda bem que o encontrei! Gostava de ouvir mais acerca da sua aldeia.
Ao que José responde:
- Está bem, João. Mas antes, olha à tua volta! Apesar de gostar muito da minha aldeia, também gosto da tua cidade. Esta praça onde estamos é conhecida como a sala de visitas desta cidade, e por cá já passaram muitas pessoas ilustres.
- Sim Jorge, o meu pai já me contou as histórias da minha cidade, mas eu quero é saber da sua aldeia. O que me vai contar hoje?
- Olha João, como tu sabes, a Implantação da República deu-se no ano de 1910, e passado um ano, mais precisamente a 12 de Junho de 1911, nascera na minha aldeia um menino que se veio a chamar António de Lima Rodrigues da Costa. Este menino cresceu e depressa aprendeu a arte de ferreiro.
- E o que fazia ele?
- Olha João, este senhor era conhecido na aldeia por “Toninho Corito”. Este senhor, e mais tarde o seu filho Fernando, foram professores de ferreiro e serralheiro, ensinando homens que se tornaram bons artistas, alguns destes com empresas na aldeia.
O João, impaciente, questiona:
- Mas o que fazia ele, afinal?
- Fazia de tudo! Trabalhava para a construção civil, fazendo ponteiros, picos e muitas outras ferramentas, mas o seu dote de ferreiro revelavam-se nas alfaias agrícolas, pois picava foucinhas para cortar erva, enxadas para cavar a terra, e lembro-me de que fazia fogueiras na beira da estrada para dobrar os aros para as rodas dos carros de bois. Este senhor tinha uma forja com um fole, onde o carvão em brasa, lhe permitia trabalhar ainda melhor o ferro e o aço. Mas sabes, João, a sua especialidade era mesmo a construção de estanca-rios.
- E o que são esses estanca-rios?
- Era um engenho que se colocava no poço de água, e tinha uns copos que, subindo e descendo com a ajuda de uma roda, traziam a água do fundo do poço até um caleiro que depois a encaminhava para os milheirais, regando todas as plantações.
- E quem o fazia mover? Era a energia eléctrica? – Pergunta o João.
- Não… Nesses tempos a energia era muito escassa, e então quem os fazia mover eram as vacas, que trabalhavam durante horas seguidas, andando à volta do poço para fazer mover o engenho.
- Coitados dos animais – lamenta o João - eram escravos.
- Tens razão - diz Jorge – eles eram autênticos escravos, mas os agricultores também. Logo pela manhã punham-se a caminho para essa árdua tarefa. Mas na verdade, João, o tempo chegava para tudo, e as pessoas eram muito mais felizes.
- Mas eu nunca vi esses engenhos.
- Um dia levo-te ao centro Paroquial da minha aldeia, para veres um pequeno museu com vários utensílios agrícolas que o nosso Pároco, com a ajuda de várias pessoas, criou, e onde podemos ver grades, arados, semeadores, um moinho de vento, um estanca-rios, e ainda outros utensílios.
- E para ver, tenho que pagar?
- O Pároco da minha aldeia também gosta destas coisas, não fosse ele um minhoto, por isso resolveu criar este pequeno museu para que estas coisas, que em tempos foram tão úteis ao Homem, não caíssem no esquecimento. Não tens que pagar nada. Faço muito gosto em mostrar-te que os nossos avós, mesmo sem as tecnologias de hoje, também eram inteligentes
- Esse senhor, o Toninho Corito, deve ter o nome dele numa rua?
- Não, infelizmente ainda ninguém se lembrou. No entanto, foi lembrado num cortejo que se realiza pela altura da Romaria da aldeia, no mês de Agosto. Sabes João, esta história é apenas um pouco das grandes coisas que este senhor fez na aldeia…. - recorda Jorge.
- O meu pai fala-me muito de um Senhor Doutor Sousa Gomes… Também deve ter sido alguém muito importante.
- Tens razão, João, e não há quem não conheça esse grande Homem, que foi o fundador do grupo folclórico da aldeia. Há muitas pessoas que gostariam de prestar uma homenagem, com a criação de um busto.
- Então porque não fazem? - Pergunta o João.
- Bem, João, hoje vai ficar por aqui, com a história do Toninho. Outro dia falaremos de uma outra, quem sabe, poderá ser a do saudoso Sousa Gomes.
- Muito obrigado Jorge, pela história de hoje. Fico contente por ver que gosta da sua aldeia…
- Obrigado João. Até à próxima."
De seguida são apresentadas algumas imagens relativas ao Museu mencionado nesta história, e que pode ser visitado no Centro Paroquial de Santa Marta de Portuzelo: