O Santa Marta Digital vai iniciar nesta publicação uma série de histórias, nas quais serão relatadas as nossas vivências de infância. Estes relatos poderiam ter sido feitos pelos nossos avós, ou mesmo pelos nossos pais aos seus netos.
Espero que estas palavras tragam de volta momentos difíceis, mas ao mesmo tempo alegres, uma vez que relatam um tempo em que muitos dos artigos que hoje consideramos banais eram praticamente inalcançáveis.
As histórias do avô Jorge
Um dia, um homem já com certa idade, de seu nome Jorge, viu uma criança na cidade e perguntou o seu nome:
- Eu chamo-me João - diz a criança - e o senhor como se chama?
- Eu chamo-me Jorge. Posso tratar-te por Joãozinho?
- Claro, é como todos me chamam.
- Agora posso fazer-te um pedido? - Perguntou o homem, ao qual Joãozinho respondeu afirmativamente - faz-me um favor, levas estas duas moedas e tiras dois brinquedos daquela máquina.
O Joãozinho foi, e voltou já com os brinquedos, que entregou a Jorge. Este pediu à criança que escolhesse um brinquedo para si, e que lhe desse o segundo. Joãozinho, não vendo ninguém à sua volta, perguntou:
- Mas o senhor está sozinho? É para o seu neto que tem em casa? Ao que Jorge respondeu:
- Não, eu não tenho netos. Sabes, quando eu era como tu não havia destes brinquedos, havia outros mas eram caros, e o meu Avô e o meu Pai não tinham dinheiro para os comprar.
- Então o senhor não brincava porque não tinha brinquedos?
- Não, eu tinha brinquedos feitos por mim, com madeira, rolamentos e rodas de bicicleta.
- Pois, mas tinha que ter dinheiro para comprar esses materiais, ou seja, para comprar os rolamentos, a madeira e as rodas de bicicleta... - retorquiu o Joãozinho.
Jorge sorriu e disse - Na minha aldeia, havia um senhor que tinha duas empresas, uma de madeiras e moagens e outra de camionetas, e sabes que foi esse senhor que levou a energia eléctrica para a aldeia? Lembro-me que ele tinha uma camioneta pequena muito bonita que se chamava RITINHA. Havia também um senhor que tinha uma oficina de bicicletas, e mais tarde veio ainda outro senhor que montou outra oficina. Como vês, a minha aldeia tem coisas boas.
- Gostei de ouvir, mas o que tem isso a ver com os brinquedos? - perguntou o Joãozinho, ao que Jorge respondeu:
- Na minha aldeia havia muitas coisas boas e homens bons: o senhor das camionetas e das madeiras dava-nos as tábuas e os rolamentos, e com isso fazia os carrinhos de rolamentos. O senhor das bicicletas dava as rodas, e daí fazíamos os arcos, como eram chamados na altura. Sabes Joãozinho, na minha aldeia faz-se todos os anos uma grande festa em Agosto, e já vi nos cortejos muitos desses brinquedos que fazíamos quando éramos pequenos.
- O senhor tem boa memória!
- A minha memória já foi melhor, mas o que te contei ainda é pouco, pois na minha aldeia há muito mais para contar, pois é muito rica em pessoas, tradições e património. Um dia destes vou convidar-te para ouvir outra história da minha aldeia, se estiveres interessado em conhecer, é claro.
- Gostei muito da sua história, e é claro que quero saber mais sobre a sua aldeia, mas hoje não, tenho que ir para casa, os meus pais estão impacientes. Obrigado pela história, mal posso esperar pela próxima!
A verdade é que esses brinquedos, de que fala a história, que também usei na minha meninice, nos poucos tempos livres que tinha, faziam as nossas delícias de crianças, porque nos permitiam correr e saltar á vontade, com os nossos vizinhos do lado. As crianças de hoje têm jogos e brinquedos caros, mas, apesar disso, são menos felizes, porque acabam por ficar fechados em casa, na maioria das vezes, a brincar sózinhos.
ResponderEliminarMaria Sousa