Com o intuito de homenagear o homem que, durante muitos anos criou os cartazes da Romaria de Santa Marta de Portuzelo, foi levada a cabo esta entrevista que se publica nesta altura, após a apresentação do cartaz da nossa Romaria, que sempre foi tão especial para este homem, o Sr. Ribeiro Soares.
Se chegou até este artigo através do jornal da nossa paróquia, "Betânia do Lima", não perca após a próxima edição deste jornal, a continuação deste artigo, assim como a publicação de várias fotografias que documentam o trabalho deste artista Santamartense.
“Santa Marta Digital” (SD) - O Senhor Ribeiro Soares não é natural desta Freguesia, mas foi aqui que formou sua família. Fez esta escolha devido ao trabalho, por gosto ou por outro motivo?
Ribeiro Soares (RS) - Nasci em Viana Do Castelo no ano 1939. Em 1966, com os meus 27 anos de idade, Santa Marta acolheu-me a mim, à minha esposa e aos nossos 4 filhos já nesta terra acolhedora, com a graça da Padroeira, aumentamos a família com mais 6 filhos, que com a mesma graça tem patenteado a alegria de serem Santamartenses.
Era eu então um humilde empregado de armazém, como estafeta nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, e aqui também pratiquei a arte de correeiro. Em 1968 entrei para a fábrica da loiça qualificando-me como ceramista, onde fui pintor e decorador, desenhando, compondo, pintando e gravando muitos trabalhos originais até 1982.
SD - Pela presença e laços que criou com o Castelo de Santa Marta, sente-se um herdeiro ao seu trono, ainda que por ficção? Fale-me um pouco disso. Produziu algum trabalho dentro das Artes nesse local?
RS - Na realidade, vivi no palácio de Portuzelo desde o ano 1971 até 1978, tomei conhecimento de que embora a sua arquitectura se pareça com um Castelo, não o é concretamente. Foi devido ao povo, que durante a sua construção lhe atribuiu esse título de Castelo, tratando-se sim do palácio da Dª Maria Rita, ex proprietária entre 1850 e 1935.
Foi aqui que, durante 7 anos, aprendi e estudei o que pude, servindo-me para isso dos muitos livros que ali existiam.
Herdeiro ao trono, não podia, para isso tinha que ser de família “kaiola”, que foram filhos de D. Tomás, herdeiro de Dª Maria Rita. Este Palácio tem amieiros e guaritas. Guardei e guardo várias recordações dos 7 anos da minha vivência no Palácio.
Pintei muitos quadros a óleo sobre tela, alguns dos quais de grandes dimensões, sendo um deles a própria fachada principal com o chafariz, com a Capela da Senhora do Carmo do lado. Esse quadro figurou por Portuzelo, no cortejo etnográfico da Romaria de Santa Marta, bem como o primeiro cartaz nocturno Igreja à noite, em 1974, sendo que a partir desta data pintei o cartaz até ao ano de 1994.
Existe um quadro pintado por mim na Sacristia da igreja paroquial, da muito querida catequista Luisinha, do ano de 1983.
SD - Tenho religiosamente guardado em minha casa, um prato desenhado por si, que me ofereceu em 1982. A nossa padroeira é um tema muito frequente na sua obra, mas que outros temas e motivos lhe interessam pintar?
RS -Sim, gosto muito de pintar a nossa Padroeira, ela merece todo o meu respeito e muito carinho é realmente agradável pinta-la, com ela nunca dou o meu tempo como perdido.
Venero-a, merece muito de mim, pois tem atendido sempre as minhas preces. Contudo, ao verdadeiro pintor, interessa-lhe pintar tudo, tanto o que vê, como o que sente, e até o que sonha. Por estranho que pareça, o artista não só gosta de pintar caras bonitas, como também as feias, sendo que beleza é mais encanto, gosto muito de paisagens luminosas e projecções na água, e muitas coisas criativas com cores atractivas.
Vou deixar em poesia o que gostava também de pintar:
O melhor e mais desejado homem de todos os tempos.
Um bando de pombas brancas de apelo à Paz.
Muitas rosas vermelhas do tamanho do mundo.
Mais uma linda rapariga e um bonito rapaz.
(continua com a saída da próxima edição da "Betânia do Lima", dia 31 de Julho)